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Ultra Trail Vuelta Al Aneto - 2010 - Crónica Telmo Veloso

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Ultra Trail Vuelta Al Aneto 2010

(Crónica Telmo Veloso)

 

 

Aproveitando a nossa semana de férias nos Pirinéus, eu e a Susana decidimos participar no Ultra Trail Vuelta al Aneto que se disputa na distância de 98kms (5.950m desnível positivo), sempre em auto-suficiência e que começa e termina em Benasque. Tomamos conhecimento desta corrida através de uma notícia que dava conta da vitória em 2009 do Alcino Serras (único português presente nesse ano). Este ano o Alcino voltou a marcar presença mas, infelizmente, foi obrigado a desistir aos 15 kms por lesão.

 

 

Nunca tínhamos participado numa prova de trail sem postos de abastecimento e com uma distância tão longa (a maior até então tinha sido o ultra trail da Geira Romana na distância de 45kms). Iria ser um novo e difícil desafio que não sabíamos se estava ao nosso alcance porque, para além da falta de experiência, não tínhamos feito qualquer preparação específica.

Para nós tudo foi novidade e aprendizagem. Logo antes da partida chegamos à conclusão que tínhamos material a mais e muito mais pesado do que a maioria dos restantes participantes. O peso mínimo da mochila, com o material obrigatório, era de 1,9kg (quase todas pesavam ligeiramente acima dos 2kgs) mas as nossas ultrapassavam os 5kgs (a juíza que pesava os sacos sorriu quando chegou a nossa vez). Paciência, pensamos nós, para a próxima vamos ser mais cuidadosos.

 

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Às 8h deu-se o tiro de partida da nossa aventura e o ambiente não podia ser mais descontraído, é a grande vantagem nas distâncias longas, apesar da nossa natural apreensão. Decidimos fazer a prova toda em conjunto porque, para além de nos ajudarmos mutuamente, estávamos de férias e por isso queríamos estar juntos.

Sabíamos que o percurso tinha 4 subidas íngremes e já tínhamos combinado que sempre que fosse necessário iríamos a caminhar, no entanto não imaginávamos que, para além da dificuldade do desnível, teríamos um piso maioritariamente composto por pedras soltas, pedregulhos e alguma neve o que nos obrigou a abrandar muito mais vezes do que era previsível.

 

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Os primeiros 20kms foram sempre a subir dos 1.100m para os 2.700m de altitude, sendo portanto um começo a “doer”. Deixamo-nos ficar para trás na largada e depois, ao longo de toda a prova, fomos ultrapassando vários atletas que quebravam (e foram muitos…).

Aos 20kms iniciamos uma descida até aos 1.500m de altitude e voltámos a subir até aos 2.500m (esta foi a subida mais complicada face ao calor que se fazia sentir e ao impressionante declive da mesma, desnível de 1.000m em 5kms de distância). Quando chegámos ao cimo estávamos com 42kms de prova. Descemos durante 9 kms até uma vila chamada Vielha onde tínhamos à espera 1 saco preparado por nós com algum material (comida, meias lavadas, água…).

Quando saímos de Vielha já tínhamos 8 horas de prova e as pernas e costas muito doridas. Nova subida íngreme que acabava num planalto que nos permitiu correr (sempre que o piso permitia começávamos logo a correr, no entanto a maioria do trajecto, especialmente nas subidas, tínhamos de ir a andar).

 

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Depois de nova descida, surgiu à nossa frente a última subida, desta vez dos 1.200m até aos 2.500m de altitude, quase sempre pelo meio de pedras soltas. Nesta altura, após ter acompanhado a Susana com alguma facilidade, comecei a quebrar bastante e estava a sofrer de dores na palma dos pés (pedras a mais para quem está habituado à estrada) sendo que a Susana apesar do cansaço natural mantinha a boa disposição e não mostrava sintomas de grandes dificuldades. Quando alcançamos o topo da subida da Picada já era noite cerrada e decidimos fazer toda a descida a correr por causa do frio, deixando para trás o grupo que se formou durante a subida. Foi nessa descida “às escuras” que nos perdemos e tivemos alguma dificuldade para reencontrar o caminho correcto (foi preciso voltar para trás e andar fora dos trilhos), foram cerca de 30 minutos de atraso, acontece!!!

Acabada a descida só faltavam 12kms para a meta mas eu já olhava para cada pedra com desespero e muito sofrimento. A dor nos pés estava a ficar difícil de aguentar e, para “ajudar”, o frontal da Susana apagou-se. Tivemos de nos guiar só com o meu, o que não foi fácil. Estes 12kms finais foram, para mim, terríveis.

Quando chegámos à estrada que entrava em Benasque (faltavam 2kms) o que sentimos é inexplicável. Parece que de repente carregámos as baterias e só queremos correr. Cortámos a meta de mão dada e com um sentimento fantástico de dever cumprido. Eram 3h da manhã, 19 horas depois do tiro de partida.

No final, dos 164 atletas (156 homens e 8 mulheres) que iniciaram este ultra trail, 46 desistiram, o que demonstra bem a sua dureza. A Susana obteve o 3º lugar feminino e eu o 28º masculino, nada mau para quem se estreia nestas andanças.

 

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Foi uma excelente experiência, tanto pela dureza como por ter sido efectuada sempre em conjunto com a Susana. Foi, sem dúvida, a prova mais difícil e exigente que fizemos até hoje, tanto físico como psicologicamente, mas VALEU A PENA!!!