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ULTRAMARATHON ATHENS-SPARTA 246 km

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João Oliveira termina a prova em

 

3 4 h 0 1 m 52 s

 

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Crónica de João Oliveira

 

Um sonho chamado SPARTATHLON

 

{xtypo_dropcap}P{/xtypo_dropcap}ara entender a Spartathlon, prova mais emblemática do Ultra-Maratonismo que ocorre sempre no ultimo fim de semana de Setembro na Grécia, é preciso voltar na história. As maratonas olímpicas que são disputadas em um percurso de 42km são uma alusão a corrida em que Pheidippides, em 490 aC fez para anunciar a vitória sobre os Persas, no entanto antes disso Pheidippides havia corrido 246km até Sparta para pedir ajuda contra a invasão. Ele chegou a Esparta, no dia seguinte, depois de deixar a cidade de Atenas, demorando 36h".

 

Segundo a história grega, após esse evento deu-se origem à maratona.  A Spartathlon recria a mais longa dessas duas históricas corridas, a mais dura delas. Sendo o trajecto, percorrido pelo mensageiro grego, Pheidippides. Ao todo o percurso tem 246 quilómetros, ou seja, quase seis maratonas ininterruptas.
A Spartatlhon começa as 7h da manhã na última sexta de Setembro em Acrópoles e termina em Sparta, após 36h limite.


A 1ª portuguesa a terminar esta prova foi Alzira Portela Lário em 2001. Além dela nem antes, nem depois houve algum português que tivesse acabado a prova.

Após 8 anos, surge outra vez um português, a conseguir tal proeza. Sendo João  Oliveira, o primeiro português masculino a consegui-lo. Envergando o dorsal nº 10, representando a camisola do Clube Porto Runners.

 

Nesta edição de 2009, inscreveram-se 380, dos quais só 320 iniciaram a prova. Terminaram 133. João de Oliveira, o herói português, consegui terminar, classificando-se no 65ª lugar, levando 34:01:52 h a conseguir tal proeza.

 

Como vi a prova.

 

Eu tive conhecimento sobre a prova, num regresso de Ronda (Sul de Espanha), após ter tido realizado 101km em montanha em 10: 33:24. Os meus colegas disseram-me que já tinham tentando os mínimos, para a realizar, mas os que conseguiram os mínimos nunca se atreveram, devido que não acabariam. Então eu perguntei quais eram os mínimos, e eles disseram que era necessário fazer 100 km abaixo das 9:30 e ser reconhecido pelo país de origem como ultramaratonista. Inscrevi-me no campeonato dos 100km em Santander, onde obtive o record nacional, 9:03:24. Retirando 1 minuto ao antigo record, pertencente a Fernando Santos, (meu instrutor). No ano seguinte, no mesmo campeonato, baixei de novo o record com um tempo de 8:29:33, classificando-me em 8º lugar da geral.

Tinha os mínimos garantidos para realizar um sonho chamado SPARTATHLON.

 

 

O que senti durante a prova.

 

A prova é muito complicada por apresentar muitas subidas, descidas e diferentes temperaturas durante todo o tempo, temperaturas que variam desde o 29º a 32º máximos aos 5º a 3º graus mínimos positivos durante os 246 km seguidos sem paragens. Daí ser considerada a rainha das ultramaratonas de estrada.

No começo a prova é um pouco rápida, devido que temos que chegar a tempo aos chek points de abastecimento e de controlo, para que não sejamos descassificados.

Já no km 81, o s meus pé me pediam descanso, cheios de bolhas devido as grandes temperaturas durante a prova. Pensei, “meu Deus ainda me faltam 165 km e os meus pés já berram. Tentei desviar o pensamento para assuntos de trabalho, faculdade, e outros que iam surgindo na cabeça. Mas a dor nos pés castigavam-me a cada passada que realizava. Berrava comigo mesmo “João, tu és um COMANDO, tens uma missão a cumprir, cumpre-a”, e lá tentava fazer mais uns tantos km. Com o chegar da noite, pensei “ é mais um dia de serviço, não vai correr mal”. Mas depressa a emoção dos lábios se esfangiu, quanto mais corria, mais me doía os pés, e o frio que já fazia, não ajudava mesmo nada. Já de madrugada o frio era tal, mesmo correndo, já os meus dentes batiam, os pés queixavam-se cada vez mais chegando a sentir choques nas pontas dos dedos. E para ajudar ao desanimo, começa a chover, meus Deus como chovia, chuva gelada e arrastada pelo vento. O piso não ajudava, devido a ser cada vez mais encharcado pela chuva, e em que consequentemente era bombardeado pelo salpicar de água vinda dos automóveis que passava ao longo do trajecto. O pior eram os camiões, esses além de nos deixar mais encharcados da cinta aos pés ainda quase nos tombava para cima das bermas devido a pressão do vento feito pela velocidade.

 

A conclusão da prova tornava -se cada vez mais  inatengivel.

 

Pensei “Tens ainda muito tempo para terminar a prova, e a tantos atrás de ti que se calhar estão pior do que tu, e estás aqui a lamentar-te como uma criança. AFINAL O HOMEM QUE É HOMEM NÃO COME O MEL, COME AS ABELHAS.”

 

Entre o frio, a chuva, a incomodidade dos automóveis e sobre tudo a dor infernal nos pés estava de caras com o último chek point. Meus Deus só me faltam 3,5. mais uma vez serrei os dentes e tentei correr um pouco mais depressa fixando um atleta que ia uns 200 metros a frente. Era francês, e o seu estado era tanto o mais lamentável do que o meu. Falei com ele; "Walk with me. Follow me and we finished together." Ele apenas sorriu. Mas apesar do sofrimento tentava-me acompanhar. Pensei Eu, não vou ganhar nada, se chegar ao fim, já é uma excelente vitória, então reduzi a passada para que o francês me pudesse acompanhar. Devíamos estar a 1,2 da meta, conseguimos apanhar um japonês que já não corria, apenas caminhava. Falei para ele, “friend, it's alright?” Ele olhou apenas para nós e disse, “ja had better days”. Pedi-lhe “came with and ended up together”, e ele começou de novo a correr. Santo Deus, ele estava uma lastima, mal conseguia por os pés no chão. Corria praticamente com os pés de lado.

 

Eram 18:01:52 estávamos os três a terminar um sonho chamado SPARTATHLON,  a ultramaratona mais dura e difícil a nível do atletismo.

Classifiquei-me em 65º lugar com um tempo de 34:01:52.

 

Inscreveram-se 380 atletas do mais alto nível de ultramaratonismo, iniciaram 320, e terminaram 133.