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26ª Maratona de Sevilha - Alexandre Caramez

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26ª Maratona de Sevilha

 

(Crónica de Alexandre Caramez)

 

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Dia 14 de Fevereiro de 2010, em Sevilha – Espanha (para quem não
sabe), estabeleci um novo recorde pessoal da maratona: 3 horas, 34
minutos e 29 segundos (tempo real), roubando 13 minutos absolutos ao
meu antigo recorde.

A cidade de Sevilha é conhecida por ter uma média de temperatura
ligeiramente superior ao normal à do Porto mas iniciei a maratona com
4ºC e acabei com 7ºC - acho que para o comum dos mortais diria que
estava muito frio. A minha insensibilidade climatérica ajudou bastante
pois não senti frio, mas o “wind-chill” (termo técnico: da real
sensação da temperatura relacionada com a velocidade do vento – quanto
maior a velocidade do vento mais acentuada a sensação de frio) criou
sensações de completo congelamento muscular.

A maratona de Sevilha, também, é conhecida por ser uma das maratonas
mais planas do mundo, mas não que deixa de ter 42,195 quilómetros! A
cidade, no dia anterior, parecia um pouco fantasmagórica, mas no dia
da competição parecia os jogos olímpicos. É incrível o apoio das
pessoas ao longo de todo o percurso, milhares e milhares de pessoas,
sempre apoiar os atletas, principalmente os amadores.

A partida e a chegada foi no Estado Olímpico – que só por si é algo de
extraordinário e grandioso – éramos cerca de 5000 e qualquer coisa
atletas de quase todas a nacionalidades. Algo de outro mundo...

Antes da prova estive em contacto com o meu inconsciente, saí do
autocarro que nos transportou até ao estádio, cumprimentei com um
joelho no chão e com uma mão como que afagar a terra onde iria correr
– adoro fazer isto para me dar a sensação de equilíbrio com o local,
com o mundo. Entrei em estado “zen” a partir daquele momento. A banda
sonora do filme Avatar a percorrer os todos os meus sentidos comecei a
sentir uma energia altamente positiva – estava a entrar no meu
“avatar”.

Após o aquecimento, dirigi-me para a zona da partida – graças a uma
técnica de PNL (Programação Neuro Linguística) a que fui submetido
durante a minha certificação, pela primeira vez não estava ansioso,
nem preocupado, nem com um nó no estômago antes do tiro de partida.
Foi absolutamente fantástico poder saborear tudo o que me rodeava e o
ambiente de emoções que se vivia no momento, no agora. Foi a melhor
partida numa prova que vivi até ao momento.

Comecei a prova com muita cabeça e pés acentes no chão, embora me
apetece voar... mas nas maratonas não se voa, faz-se passo a passo.
Dean Karnazes refere no seu livro “Ultramarathonman” que se necessário
usando passinhos de bebé até atingires o teu objectivo.

Juntei-me ao meu fantástico grupo de amigos e atletas de equipa do
Portorunners, apostando fazer os primeiros 21km nas casa da 1h35/40
para depois, conforme o conforto que me sentia, ir à minha vida.

O Luís e o Vítor, grandes atletas e experientes em maratonas (o Luís
já com 47 maratonas nas pernas["noves fora, LOL] e o Vítor que
escreveu o livro “Correr por prazer”) aconselharam-me e motivaram-me
dizendo-me que estava a fazer uma excelente prova e com muito cabeça.
Também, o Mesquita foi uma grande e alegre companhia no meu percurso
bem preenchido.

Acompanhei-os até aos 30 kms, à volta dos 4:45 minutos ao quilómetro.

Mas... (bolas, existe sempre um mas!)

Aqui aconteceu algo que não estava previsto, mas tudo tem uma razão de
ser (isso mesmo...). Fiz os 11 kms seguintes, com uma caimbra nos
gémeos da perna esquerda tendo de abrandar para os 5 minutos ao
quilómetro.

Desmoralizei um pouco inicialmente. Fiquei um pouco triste ver os meus
amigos afastar e não poder acompanhá-los. Parei 2 vezes nos postos de
emergência médica para me aplicarem o “spray milagroso” mas o efeito
paliativo apenas durava 500 metros, paciência: cadeia de excelência e
“bota” para a frente, passada a passada.

Aproveitei, mais uma vez, para motivar quem vinha “pior” do que eu e
estabeleci muito “rapport” com muitos outros atletas de diversas
nacionalidades. Desta vez não fiz nenhum piquenique ambulante, apenas
usei as minhas pastilhas de Isostar e água para hidratar.

Chegou o quilómetro 41, a hora do “ou vai ou racha”. A minha mente já
só pensava: IMPOSSIBLE IS NOTHING – e finalmente voei para a meta.

A vibração e o acumular do público, a entrada gloriosa no estádio
olímpico é uma sensação impossível de descrever. Lembro-me de que a
última vez que me doeu um pouco a perna foi na descida do túnel para o
estádio e que chorei de alegria. Assim que o meu pé pousou no tartan,
abri os braços como que estivesse a voar e foi o delírio do público,
fiz 350 metros em aproximadamente 50 segundos, após 42 quilómetros –
voei 350 metros, não foram os 195! Na minha cabeça parecia ouvir a
música do Vangelis – “Chariots of Fire”. Estava feita a minha primeira
grande maratona internacional com um novo recorde.

A explicação. A minha quebra deveu-se a uma falta grave de disciplina
a nível de treino. Há sempre uma regra de ouro e que quem não a
cumprir custa muito nas provas: “o treinador tem sempre razão” -  a
minha treinadora estava orgulhosa de mim, mas tivemos um “debriefing”
pós-prova na qual o “feedforwarding” foi muito construtivo. Deixo um
conselho: não é a prova que custa, é o treino!

Sejam fortes, pois eu sei que vocês são capazes. IMPOSSIBLE IS
NOTHING, principalmente para quem corre com o PODER DA MENTE.

Obrigado ao meu pai e à minha mãe pelos sacrifícios e dores que passam
comigo. Obrigado aos meus amigos que sempre estiveram comigo, perto e
ao longe.

Obrigado aos meus ENORMES amigos da Certificação em Practitioner em
PNL que sempre acreditaram em mim.

Obrigado, também, a todos os Portorunners que me apoiaram durante a
prova, e sem descartar nenhum, mas um grande bem haja às sábias
palavras de apoio, conselho e conforto do Luís!

Um enorme agradecimento a quem torna tudo isto possível, a melhor
treinadora, amiga e irmã Raquel.

E um menção honrosa a uma grande Pessoa e Mulher que me ajudou no
momento mais difícil da maratona de Sevilha (no dia anterior): a Núria
Mendonza (da Coach da LIFETRAINING).

Treinem, seja para a caminhada, para a corrida da família ou mesmo
para a mais bela maratona do Mundo, a do Porto; pois ficarei muito
feliz que todos vocês me acompanhem cada um ao vosso ritmo na Maratona
do Porto e no fim façamos uma grande festa.

Olá, sou o Alexandre Caramez, sou maratonista português internacional
desde de domingo e estou muito feliz e orgulhoso disso.